Pesquisa demonstra novas possibilidade para saúde e agricultura através da vitamina C

14/09/2020

Estudo realizado pelo Centro de Pesquisa de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) apontou a diminuição da oxidação de proteínas localizadas nas células dos seres vivos. Nas plantas, exemplo, onde se tem uma maior concentração de vitamina C é possível observar uma maior velocidade desse processo.

As conclusões obtidas podem contribuir para a área da agricultura, dando maior possibilidade de êxito nos cultivos, assim como na área da saúde, no que diz respeito a virulência de fungos e bactérias.

Situado no Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) e com suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Redoxoma é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão.

O professor Luis Eduardo Soares Netto, do Instituto de Biociências (IB) da USP e coordenador da pesquisa e explicou que a Vitamina C atua como um fator associado à síntese de colágeno. Assim, a pesquisa se debruçou na redução de compostos derivados do enxofre, o ácido sulfênico, forma oxidada dos tióis presentes em proteínas.

O estudo investigou, in vitro, oxidações em proteínas com tióis que oxidam facilmente em contato com moléculas como as da água oxigenada (peróxido de hidrogênio). O resultado da oxidação é o ácido sulfênico. A água oxigenada é formada dentro das células nos processos para obtenção de energia, nas reações analisadas, de acordo com o professor Netto, em entrevista no Jornal da USP.

A observação permitiu perceber que a vitamina C reverte a oxidação das proteínas, retornando o ácido sulfênico a sua forma original, os tióis. Assim, volta-se a impedir a oxidação das moléculas existentes nas células, como DNA e lipídeos na membrana celular, segundo Netto.

Utilizando a fórmula do pesquisador Gerardo Ferrer Sueta, da Univerdidad de La Republica, no Uruguai, foi possível calcular a velocidade de reação entre a vitamina C e o ácido sulfênico. O resultado é que a reação em células de seres vivos ocorre mais vezes em locais de maior concentração de vitamina C, como em plantas.

Novas descobertas podem contribuir na agricultura, pois as plantas possuem altos níveis de ascorbato, que tem relação com o crescimento, envelhecimento e germinação. A diminuição de oxidação da enzima 1-Cys peroxirredoxina no núcleo das células das sementes pela vitamina C tem um grande papel na germinação.

Além disso, o estudo possui relevância para saúde pois contribui para o entendimento da enzima 1-Cys peroxirredoxina, envolvida na virulência. Conjuntamente com a professora Regina Baldini, do IQ da USP, a pesquisa demonstrou que a retirada do gene que codifica essa enzima da bactéria Pseudomonas aeruginosa, ela deixa de ser virulenta em camundongos. O único redutor dessa enzima é o ascorbato, aponta o professor Netto.

O estudo foi publicado no dia 20 de agosto na revista Free Radical Biology and Medicine, no artigo Reduction of sulfenic acids by ascorbate in proteins, connecting thiol-dependent to alternative redox pathways.

O professor destaca que é preciso cuidado no suplemento da Vitamina C, mas que seu consumo por alimento não possui efeitos colaterais. A vitamina C é encarregada de inúmeros processos no organismo, como a síntese de colágeno e redução de proteínas.

A doutoranda Valesca Anchau foi a responsável por realizar os experimentos sobre a velocidade de redução, no IB, e contou com o suporte de Luis Eduardo Soares Netto, Renata Bannitz Fernandes, Carlos Tairum e Rogério Luis Aleixo Silva.

Contudo, a pesquisa também teve colaboração de Celisa Caldana Costa Tonoli e Mario Tyago Murakami, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), de Campinas-SP, de Marcos Antonio de Oliveira, do IB da Unesp, de São Vicente-SP e de Gerardo Ferrer-Sueta, da Universidad de La República (Uruguai).

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